Neuroinflamação no Hipocampo: Como a Resposta Imune Redefine o Comportamento e a Memória de uma Maneira Sexo-Especifica
Legenda: Aplicação de lipopolissacarídeo em culturas primárias causa ativação neuronal na presença de astrócitos: (A) a) Representação esquemática do procedimento de coleta e processamento de micróglias e astrócitos do hipocampo de camundongos, e b) de neurônios do hipocampo de camundongos, para estudos com culturas celulares primárias. Criado com Biorender.com. (B) Mapa de calor mostrando a variação relativa na expressão de proteínas de diferentes citocinas nas triculturas de neurônios, micróglias e astrócitos tratadas com LPS ou não tratadas (controle). (C,F,J,N) Imagens de alta resolução mostrando culturas tratadas com solução salina ou LPS coradas com DAPI (núcleos), MAP2 (neurônios), c-Fos (neurônios ativados), IBA1 (micróglias) e GFAP (astrócitos) (barra de escala: 100 µm) para: (C) monocultura de neurônios; (F) cocultura de neurônios e micróglias; (J) cocultura de neurônios e astrócitos; (N) tricultura de neurônios, micróglias e astrócitos. (D,E) Alteração relativa na intensidade de MAP2 e c-Fos em monoculturas de neurônios tratadas com LPS (verde escuro) ou não tratadas (controle, verde claro).
(G,H,I) Alteração relativa na intensidade de MAP2 e c-Fos em neurônios e na intensidade de c-Fos em micróglias, em coculturas de neurônios e micróglias tratadas com LPS (verde escuro) ou controle (verde claro).
(K,L,M) Alteração relativa na intensidade de MAP2 e c-Fos em neurônios e na intensidade de c-Fos em astrócitos, em coculturas de neurônios e astrócitos tratadas com LPS (verde escuro) ou controle (verde claro).
(O,P,Q,R) Alteração relativa na intensidade de MAP2 e c-Fos em neurônios e na intensidade de c-Fos em micróglias e astrócitos, em triculturas de neurônios, micróglias e astrócitos tratadas com LPS (verde escuro) ou controle (verde claro).
Para cada cultura, n = 3 réplicas biológicas (cada uma replicada tecnicamente uma vez). *p < 0,05.
Creditos da imagem: Ganesan et al, 2025
A inflamação no hipocampo, uma característica central de várias doenças neurodegenerativas e psiquiátricas, pode alterar profundamente o comportamento e a memória, com impactos específicos dependendo do sexo. Um estudo recente explorou como a administração da endotoxina lipopolissacarídeo (LPS) em camundongos provoca neuroinflamação, revelando efeitos distintos em machos e fêmeas. A pesquisa mostrou que a inflamação aumentou a ativação neuronal nas fêmeas, enquanto a reduziu nos machos em regiões-chave do hipocampo, como o giro denteado. Esse processo foi mediado pela interação entre neurônios e células gliais, particularmente astrócitos e micróglias, que desempenharam um papel crucial na modulação das respostas inflamatórias e da atividade cerebral.
Comportamentalmente, as fêmeas apresentaram um aumento na busca por alimentos e aprendizado orientado por objetivos, exibindo maior persistência em ações direcionadas. Em contraste, os machos mantiveram níveis estáveis nessas atividades, mas também demonstraram aprendizado mais rápido de controle orientado por objetivos. Curiosamente, a memória associada a estímulos alimentares foi prejudicada nas fêmeas, enquanto nos machos foi fortalecida. Esses efeitos divergentes destacam como a inflamação pode moldar comportamentos específicos, muitas vezes relacionados às diferenças biológicas entre os sexos. Além disso, a neuroinflamação levou a um aumento generalizado na atividade locomotora em ambos os sexos, mas sem alterar significativamente comportamentos relacionados à ansiedade, embora as fêmeas mostrassem maior propensão à ansiedade no geral.
Essas descobertas oferecem uma nova perspectiva sobre como processos inflamatórios no cérebro podem estar relacionados às alterações comportamentais e cognitivas observadas em doenças como Alzheimer, depressão e esclerose múltipla, que frequentemente afetam mulheres de forma mais severa. A pesquisa ressalta a importância de considerar as diferenças sexuais ao desenvolver intervenções terapêuticas para distúrbios associados à inflamação cerebral, sugerindo que estratégias personalizadas podem ser mais eficazes. Ao iluminar os mecanismos subjacentes que conectam neuroinflamação, comportamento e memória, este estudo abre novos caminhos para compreender e tratar condições neurológicas que afetam milhões de pessoas em todo o mundo.